domingo, março 08, 2015

MINHA VISITA A MARTE


Sempre desejei visitar todos os lugares estranhos onde se passavam as histórias de ficção científica que devorava na minha adolescência e juventude. Bem sei que é um sonho irrealizável, até porque a maioria desses sítios, apenas existem na imaginação dos seus criadores. Mas um dos que mais me apaixonou e fez identificar com aquele local, foi Marte, o planeta vermelho!
Bem, mas esse existe! E agora que está em curso a primeira tentativa de colonização de Marte, com inscrições abertas, para os primeiros pioneiros, de uma viagem apenas de ida…comecei a pensar…e se eu me inscrevesse? Bem sei que já não tenho idade, nem condições físicas e psicológicas, para ser seleccionada para um projeto com altíssimos padrões de exigências…mas será que os jovens que irão ser selecionados, não vão necessitar de uma pessoa como eu, uma mulher madura e experiente com alto nível de versatilidade e engenhesidade uma espécie de McGyver feminina, que possa acudir a eventualidades e imprevistos, onde todos os ensinamentos e tecnologias possam não se mostrar suficientes e até falhar?
Bem, que tenho a perder? Se não resistir e o pior acontecer, também aqui na Terra, já tenho uma expectativa de vida reduzida e uma morte relativamente anónima. Que melhor legado para as gerações futuras, que um epitáfio da primeira pioneira de Marte, falecida ao serviço do progresso da Humanidade, para descobrir novas fronteiras? Afinal que foram os portugueses, senão pioneiros que deram ao Mundo, novas fronteiras percursoras de tantos avanços da nossa espécie no mundo? Vamos lá…está decidido! Inscrevi-me!
Bem, mas certamente o meu formulário será deitado na reciclagem, com umas boas risadas á mistura! Mas seja como for, Alea jacta est!
Bem e não é que aconteceu o improvável? Um dia pela manhã, estava eu a escrever uma história, quando recebi um telefonema estranho! Alguém que falava em inglês com sotaque americano convocava-me para uma entrevista em Lisboa, na Embaixada Americana!
Lá fui eu daí a dois dias, munida do meu melhor inglês reciclado numa actualização á pressa, e para abreviar a história, vim a saber que tinha sido seleccionada para a expedição a Marte!
A partida seria daí a 12 meses, e teria que participar num exigente programa de treinos, pelo menos para aprender a não sufocar logo que pusesse o pé fora da superfície terrestre!
Claro que não tinha contado nada em casa! E agora como ia descalçar a bota? Bem lá disse que tinha concorrido a um emprego nos Estados Unidos e tinha sido chamada para um estágio de um ano. Não era mentira, mas também estava longe de ser toda a verdade! Iria contar por etapas, antes que alguém tivesse um ataque!
E o dia tão ansiado chegou finalmente! Ainda não sei como consegui ultrapassar todas as etapas e ser aprovada, mas lá ia eu na nave, a mais velha do grupo inicial, e sentindo-me a mãe de todos!
Quando desembarcámos, eu estava preparada para tudo, menos para o que se passou na verdade!
Tinham-nos ensinado desde sempre que Marte era desabitado, mas então como explicar a receção que tivemos, logo que entrámos na ténue atmosfera marciana?
Seres alados esperavam-nos e começaram a acompanhar as nossas naves, sem qualquer esforço. Capacetes com pequenas asas na cabeça, aparentemente para servirem de sistema de navegação, longas asas cinzentas com reflexos metálicos, tal como os seus corpos que cintilavam com pequenas chispas á luz fraca do Sol.
O comando da nave-mãe chamou-nos pelo sistema de comunicação interna, recomendando calma e relembrando todas as normas para comunicação com espécies alienígenas. Prosseguimos com todas as etapas previamente estabelecidas, mas ao iniciarmos as manobras de descida, a nave deixou de responder aos comandos!
Perante a mais que provável hipótese de nos despenharmos, e já atribuindo culpas aos seres que nos cercavam, o comandante deu ordens para abandonar a nave usando os nossos fatos espaciais de suporte de vida!
Mas perante circunstâncias adversas como as que enfrentávamos, todo o treino e condicionalismos provaram não ser suficientes, para conter o pânico e o medo e ninguém ousou abandonar a nave e ir lá para fora enfrentar os anjos alados!
Preferiam enfrentar a morte unidos e esmagarem-se contra o planeta, do que enfrentar o desconhecido!
Mas havia alguém destemido ou completamente desesperado, para o fazer! EU!
Já completamente equipada, segui as indicações ignorando as expressões estarrecidas dos outros membros da expedição e ejetei o meu assento, abrindo a cúpula transparente que me cobria!
Nada me recorda do que senti, parecia-me apenas um sonho, quando agora tento lembrar-me! Mas quando recuperei a consciência, estava envolvida pelas asas de um daqueles seres que me tinha apanhado em pleno voo, quando o meu fato e capacete se desintegraram deixando-me completamente nua! Estava no seu ninho, uma estranha torre no meio de uma cidade de torres idênticas, que depois descobri serem as habitações dos Anjos, que tinham estabelecido uma base numa das luas de Marte!
Sentia uma reconfortante sensação de proteção e aconchego e na minha mente uma voz me falava: - Sou Michael e tu, como te chamas? Que vêm fazer a Marte? Depois de eu explicar tudo o anjo pediu desculpas, mas explicou que eram os guardiões do planeta e que ninguém estava autorizado a descer lá, pois era completamente inabitável! Perante a minha interrogação, acerca do que tinha acontecido á minha nave e os seus ocupantes, bem como á nave-mãe, Michael disse que tinham sido desviadas para a sua base em Deimos e que iam ser todos interrogados e educados para compreenderem as questões profundas sobre os seres que habitam a galáxia e as condições de habitabilidade dos planetas! Estavam a salvo e isso era importante, mas o melhor era aquele encontro inesperado com os Guardiões de Marte e o que iríamos aprender com eles!
E assim consegui concretizar mais um sonho!

Arlete Maria Piedade Louro
Portugal



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