quarta-feira, janeiro 21, 2015

CONTO "MARY ANNE"



Todas as manhãs, ainda o sol não tinha despontado, iluminando as copas das árvores vestidas de cores outonais Mary Anne chegava e sentava-se no banco de madeira á beira do extenso relvado do Central Park em Nova Iorque.
No seu colo, o homem que a acompanhava, colocava grandes braçados de flores coloridas de cores garridas e diversas espécies. Depois ia embora, e a menina de tristes olhos azúis, ali ficava sentada sozinha, toda a manhã.
Os habituais utilizadores do parque iam chegando e comprando as flores á menina. Ela nada dizia, apenas recebia as moedas que lhe davam em troca das flores. Uma moeda, uma flor!
Ao final da manhã, o homem voltava. Abria a caixinha das moedas e fazia uma rápida contagem. Também contava as flores excedentes, que atirava com indiferença para o cesto do lixo mais próximo. Depois ia embora sem olhar para trás e a menina seguia-o a medo, sempre tristonha. Ela sabia que só teria direito á refeição sempre igual, de uma sopa aguada com um pedaço de pão, se conseguisse vender o número de flores que o patrão tinha em mente. Nos dias em que não atingia o número ideal, não almoçava e tinha que trabalhar toda a tarde nas estufas de flores com a barriguita encolhida contra as costelas e os olhos azuis marejados de lágrimas de dor e fome.
Um dia, um senhor com um ar bondoso carregado com telas, paletas de cor e pincéis, sentou-se no banco ao lado do dela e sorriu-lhe. Ela não estava habituado a sorrisos e baixou os olhos envergonhada. Ele montou o seu tripé, colocou uma tela nova e começou a desenhar. Depois misturou as cores, e ficou pintando o desenho. Curiosa Mary Anne observava-o. Ele às vezes sorria-lhe e ela esquecida que não sabia sorrir, correspondia. A manhã passou depressa, e quando o patrão regressou, a caixa das moedas estava vazia e as flores estavam na mesma posição, abraçadas pelos bracitos nervosos da menina. O homem perdeu a cabeça e começou a injuriar a pequena vendedora, chamando-lhe inútil e dizendo que naquele dia ela tinha que ficar no parque sem almoçar, até vender todas as flores. Depois voltou costas, mas o artista, dirigiu-se-lhe perguntando quanto queria pelas flores, pois queria levar todas. Feito o preço, o pintor entregou as moedas estipuladas e só então o floricultor reparou no quadro onde estava retratada a menina com as suas flores.
- Espero que não se importe de ter pintado a sua filha sem sua autorização! – Disse o artista.
- Não é minha filha! Ela é uma órfã inútil que acolhi por caridade e tento que me ajude no meu negócio, mas mal consegue ganhar para a sopa que come!
O pintor impressionado com os olhitos azuis marejados de lágrimas e o coração empedernido daquele homem respondeu: - Pois então se me autoriza, ela ficará ao meu serviço a partir de hoje, para modelo das minhas pinturas! Não tenho dúvidas que juntos conseguiremos criar e vender belos quadros, que irão providenciar o nosso sustento!
- Pode levar essa criança inútil se lhe interessa! - Respondeu o floricultor sem hesitar e voltando as costas foi embora atravessando o parque. O artista sorriu e estendeu a mão a Mary Anne, que sem hesitar a aceitou e o seguiu confiante, os olhos da cor do céu, brilhantes de felicidade!

Arlete Maria Piedade Louro


1 comentário:

  1. Querida amiga,
    Que lindo o seu conto "Mary Anne". Adorei!!! E quantas vezes vemos meninas a pedir que depois entregam a esmola que recebem a um homem que conta o dinheiro e o leva todo. É muito triste que façam isto e não podemos fazer nada senão não voltar a dar a esmola à menina que está a ser explorada!?
    Agradeço do coração os parabéns que teve a gentileza de deixar no meu blogue.
    Que lindas palavras deixou no meu poema!!! Com muita amizade da Maria

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