domingo, janeiro 25, 2015

A MENINA DA JANELA


Maria era uma adolescente que vivia numa vila alentejana nas planícies ao sul de Portugal, Era tímida e o pai, apenas a autorizava a sair de casa para ir á escola, acompanhada da criada que também a ia esperar á saída das aulas. Quando regressava, fazia os deveres escolares e aprendia com a mãe a bordar e costurar e todas as artes de uma dona de casa, para estar preparada para o casamento, quando chegasse a sua hora.
As suas colegas saíam depois das aulas, para passearem no jardim e aos domingos para irem ao cinema. Maria ficava espreitando por trás da janela, para ver os rapazes que passavam na rua, e quando algum parava, olhando para cima, tentando ver a menina que se escondia atrás dos cortinados brancos bordados, ela timidamente entreabria as portadas azuis e dizia: Bom Dia!
Um dia ela encontrou uma carta por debaixo da porta, endereçada á Menina da Janela. Receosa e chocada abriu a carta á noite no seu quarto, e leu o pedido que o rapaz que todos os dias passava a cavalo na rua fazia, para ir falar com o pai dela, para lhe pedir autorização para namorarem. Ela também gostava dele, por isso arranjou forças para falar com o pai, mas a resposta foi negativa, porque o rapaz era pobre e apenas era um trabalhador nos estábulos da quinta, próxima da vila. Quando ele surgiu na rua, olhando ansioso para a janela entreaberta, ela só acenou um não com a mão e fechou a janela, para ele não ver as suas lágrimas. No domingo seguinte, o pai apareceu com um rapaz mais velho, em casa e mandou-a chamar á sala de jantar. Disse-lhe: Maria este é o José. É filho do meu sócio, é um bom rapaz, tem um lugar na empresa garantido, tem uma casa e um carro, e quer casar contigo. Vamos marcar o casamento para daqui a dois meses, a tua mãe diz que tem tudo preparado, prepara-te também!
Maria saiu cabisbaixa, tentando conter as lágrimas. Não gostava daquele homem, não o conhecia de lado nenhum, mas sabia que se o pai mandava, apenas lhe restava obedecer. Os dois meses demoraram a passar, mas ela foi-se conformando com a presença dele e o casamento realizou-se na data marcada. D. Maria da Paz Guerreiro, foi viver para a casa do marido numa quinta no campo e deixou de ser vista na vila, a janela agora sempre fechada, era a imagem da tristeza.
A vida seguiu seu curso, os negócios faliram quando a crise económica teve início, seus filhos emigraram para Inglaterra, e seu pai, agora velho, faleceu de desgosto, deixando-lhe a casa da vila. Seu marido fugiu para o Brasil com a secretária, mas o avião caiu e não houve sobreviventes.
Viúva e livre voltou a viver na casa da vila, a janela aberta de par em par, deixava entrar o sol alentejano, e D. Maria da Paz, agora uma senhora quarentona, ainda bonita e viçosa, passava o tempo á janela, cumprimentando quem passava.
Um dia pela manhã cedo, ainda antes de abrir a janela, ouviu que batiam á porta da rua. Surpreendida por ter visitas àquela hora matinal, foi abrir. Um gentil cavaleiro, esperava segurando pela rédea um belo cavalo lusitano. Prendendo a rédea do cavalo, na argola da parede, cumprimentou-a com cortesia, retirando o seu chapéu: Bom dia posso entrar?
Sem reação, ela apenas se afastou, dando-lhe espaço, para entrar na sua casa e na sua vida, do lado de dentro da janela.
Arlete Maria Piedade Louro


Portugal


Sem comentários:

Enviar um comentário