sexta-feira, maio 14, 2010

A ANFITRIÃ PORTUGUESA

Arlete Piedade, da simpática e pequena cidade de Santarém, onde estive duas vezes por ocasião da viagem a Portugal, em março de 2010, é o assunto deste pequeno texto. Eu a conheci em 2005, pela internet. De lá para cá, trocamos dezenas de e-mail e mensagens no MSN, participamos de várias iniciativas em sites e blogs que divulgam as pessoas que praticam a arte e a literatura lusófonas pelo mundo afora.
No início, eu supunha que ficaria só nisso, devido à distância física que nos separa, embora tenhamos vários pontos de convergência, como por exemplo, o amor à poesia e a preocupação com o meio ambiente. Assim como Arlete, também escrevo em prosa e verso, mais em verso do que em prosa, e estamos sempre buscando novas formas de expressar o que sentimos. Hoje Arlete, entre outras ações na net, mantém o blog http://maduraliberdade.blogspot.com/, é colaboradora do Jornal Raizonline e locutora de rádio.
Temos também uma história familiar parecida. Seu pai e o meu cultivavam uma hortinha de ervas medicinais, verduras, legumes e algumas árvores frutíferas em um pequeno espaço próximo à casa. O local tornou-se uma espécie de santuário, após o desaparecimento dos seus proprietários. Ao conhecer o espaço na Aldeia onde vivia seu pai, fiquei impressionada com a semelhança entre as histórias. Em continentes distantes, dois homens que nem sabiam da existência um do outro, viveram seus últimos dias fazendo a mesma coisa, ou seja, adubando a terra, plantando e cuidando das plantinhas que finalmente deixaram como herança. O mais interessante é que em ambos os casos, os que permaneceram se voltaram para aquelas plantas para lhes dispensar o mesmo tratamento vip que vinham recebendo, como se houvessem firmado um contrato com seus ascendentes.
Conheci a mãe de Arlete. Ela me transportou à infância em Catalão, ao tempo em que as viúvas se vestiam de preto da cabeça aos pés durante um ano a contar da morte do marido ou de um ente querido. Sorridente, embora com o olhar entristecido, deixou-se fotografar, após me receber com a gentileza própria de uma dama elegante e corajosa.
Senti vontade de conversar mais com ela. Talvez na próxima viagem...

Arlete organizou um evento grandioso para receber a mim e a Shirley, em Almerim. Dezenas de pessoas que pareciam ter nascido na mesma cidade que nós, ou saído da nossa própria história, nos abraçavam, beijavam e aplaudiam calorosamente. Embora ausente, Daniel Teixeira, meu querido amigo e proprietário do Jornal Raizonline, homem culto, gentil, dedicado a divulgar autores dos países lusófonos, acompanhava tudo lá do Algarves. A alegria contagiante de Gabriel Castanhas e de sua esposa São, as piadas em sequencia de Joaquim Sustelo e todos os demais participantes envoltos na mesma sintonia festiva do evento, nos levaram às lágrimas de emoção.
Como se não bastasse, Arlete ainda destacou um dia só para mostrar-me os arredores de Santarém e Almerim, cidades próximas, onde a vegetação é exuberante, o clima úmido e muito agradável por causa da abundância de água corrente sobre pedras. Restos das construções árabes bem preservados aqui e ali, oliveiras e vinhedos ao longo das estradas completam o cenário. A região é linda, dona de ar puro e história que certamente enchem de orgulho seus moradores. Arlete é assim, uma mulher permanentemente apaixonada, que encontra as pessoas onde quer que elas estejam e as transforma em aliadas.
Ao fim de mais um dia emocionante, voltei a Lisboa, já com saudades.

Sandra Fayad

(Transcrevo este texto da minha querida amiga e escritora Sandra Fayad, com sua autorização, com orgulho e carinho)

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