Quando eu nasci, as cegonhas já tinham terminado a sua
migração para o sul do país e portanto foi um pouco difícil a minha chegada ao
centro de Portugal, numa zona fora das rotas habituais dessas belas aves, que
chegavam de Paris.
A minha mãe tinha-se levantado num sábado de madrugada, para
ajudar a sogra a amassar o pão feito da farinha do nosso trigo, quando teve os
primeiros sinais de parto. Informadas as mulheres mais velhas, a minha mãe foi
impedida de prosseguir na sua tarefa e optou-se por chamar a parteira, que
vivia numa aldeia vizinha.
Chegada a sapiente mulher, agora substituída por enfermeiras
e médicas, foi observada a minha mãe e decretado que ainda iria demorar algum
tempo até eu chegar e só havia que aguentar as dores, como todas as mães antes
e depois daquele ano de 1956. Se a demora se devia á rota a sul, das cegonhas,
eu não sei ao certo, mas o certo é que só na terça-feira seguinte pelas 9 h da
manhã, eu cheguei.
Penso que a parteira desistiu de esperar pelas cegonhas,
porque naquele tempo com os telemóveis por inventar, a internet ainda em
projecto e o atraso nos telefones lá na aldeia, elas não tinham maneira de ser
contactadas e então escolheram as andorinhas, para anunciar a minha chegada.
Eu bem as escutei chilrear nos beirados em volta da casa,
todas agitadas. Para espantar as invejas por um transporte tão pouco usual, a
parteira e as outras mulheres da família, resolveram defumar-me e às roupinhas
que eu iria vestir, com fumaça de alecrim. Roupinhas essas que a minha mãe
tinha laboriosamente costurado nos meses da gravidez, aproveitando as costas
das camisas do meu pai já usadas, para cortar as minhas fraldas e costurando os
meus vestidinhos, camisas e casaquinhos de flanela, ela mesma, com tecidos
comprados na loja da aldeia ou reciclando velhas roupas, que naquela altura
levava-se a sustentabilidade e o ambiente muito a sério!
E então como nasci ao mesmo tempo que o verão se
anunciava, lá fui crescendo até que fiquei como na foto anexa, a primeira a que
tive direito, pois fotógrafos também não abundavam!
Arlete Maria Piedade Louro
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