Sempre desejei visitar todos
os lugares estranhos onde se passavam as histórias de ficção científica que
devorava na minha adolescência e juventude. Bem sei que é um sonho
irrealizável, até porque a maioria desses sítios, apenas existem na imaginação
dos seus criadores. Mas um dos que mais me apaixonou e fez identificar com
aquele local, foi Marte, o planeta vermelho!
Bem, mas esse existe! E agora
que está em curso a primeira tentativa de colonização de Marte, com inscrições
abertas, para os primeiros pioneiros, de uma viagem apenas de ida…comecei a
pensar…e se eu me inscrevesse? Bem sei que já não tenho idade, nem condições
físicas e psicológicas, para ser seleccionada para um projeto com altíssimos
padrões de exigências…mas será que os jovens que irão ser selecionados, não vão
necessitar de uma pessoa como eu, uma mulher madura e experiente com alto nível
de versatilidade e engenhesidade uma espécie de McGyver feminina, que possa
acudir a eventualidades e imprevistos, onde todos os ensinamentos e tecnologias
possam não se mostrar suficientes e até falhar?
Bem, que tenho a perder? Se
não resistir e o pior acontecer, também aqui na Terra, já tenho uma expectativa
de vida reduzida e uma morte relativamente anónima. Que melhor legado para as
gerações futuras, que um epitáfio da primeira pioneira de Marte, falecida ao
serviço do progresso da Humanidade, para descobrir novas fronteiras? Afinal que
foram os portugueses, senão pioneiros que deram ao Mundo, novas fronteiras
percursoras de tantos avanços da nossa espécie no mundo? Vamos lá…está
decidido! Inscrevi-me!
Bem, mas certamente o meu
formulário será deitado na reciclagem, com umas boas risadas á mistura! Mas
seja como for, Alea jacta est!
Bem e não é que aconteceu o
improvável? Um dia pela manhã, estava eu a escrever uma história, quando recebi
um telefonema estranho! Alguém que falava em inglês com sotaque americano
convocava-me para uma entrevista em Lisboa, na Embaixada Americana!
Lá fui eu daí a dois dias,
munida do meu melhor inglês reciclado numa actualização á pressa, e para
abreviar a história, vim a saber que tinha sido seleccionada para a expedição a
Marte!
A partida seria daí a 12
meses, e teria que participar num exigente programa de treinos, pelo menos para
aprender a não sufocar logo que pusesse o pé fora da superfície terrestre!
Claro que não tinha contado
nada em casa! E agora como ia descalçar a bota? Bem lá disse que tinha
concorrido a um emprego nos Estados Unidos e tinha sido chamada para um estágio
de um ano. Não era mentira, mas também estava longe de ser toda a verdade! Iria
contar por etapas, antes que alguém tivesse um ataque!
E o dia tão ansiado chegou
finalmente! Ainda não sei como consegui ultrapassar todas as etapas e ser
aprovada, mas lá ia eu na nave, a mais velha do grupo inicial, e sentindo-me a
mãe de todos!
Quando desembarcámos, eu
estava preparada para tudo, menos para o que se passou na verdade!
Tinham-nos ensinado desde
sempre que Marte era desabitado, mas então como explicar a receção que tivemos,
logo que entrámos na ténue atmosfera marciana?
Seres alados esperavam-nos e
começaram a acompanhar as nossas naves, sem qualquer esforço. Capacetes com
pequenas asas na cabeça, aparentemente para servirem de sistema de navegação,
longas asas cinzentas com reflexos metálicos, tal como os seus corpos que
cintilavam com pequenas chispas á luz fraca do Sol.
O comando da nave-mãe
chamou-nos pelo sistema de comunicação interna, recomendando calma e
relembrando todas as normas para comunicação com espécies alienígenas.
Prosseguimos com todas as etapas previamente estabelecidas, mas ao iniciarmos
as manobras de descida, a nave deixou de responder aos comandos!
Perante a mais que provável
hipótese de nos despenharmos, e já atribuindo culpas aos seres que nos
cercavam, o comandante deu ordens para abandonar a nave usando os nossos fatos
espaciais de suporte de vida!
Mas perante circunstâncias
adversas como as que enfrentávamos, todo o treino e condicionalismos provaram
não ser suficientes, para conter o pânico e o medo e ninguém ousou abandonar a
nave e ir lá para fora enfrentar os anjos alados!
Preferiam enfrentar a morte
unidos e esmagarem-se contra o planeta, do que enfrentar o desconhecido!
Mas havia alguém destemido ou
completamente desesperado, para o fazer! EU!
Já completamente equipada,
segui as indicações ignorando as expressões estarrecidas dos outros membros da
expedição e ejetei o meu assento, abrindo a cúpula transparente que me cobria!
Nada me recorda do que senti,
parecia-me apenas um sonho, quando agora tento lembrar-me! Mas quando recuperei
a consciência, estava envolvida pelas asas de um daqueles seres que me tinha
apanhado em pleno voo, quando o meu fato e capacete se desintegraram
deixando-me completamente nua! Estava no seu ninho, uma estranha torre no meio
de uma cidade de torres idênticas, que depois descobri serem as habitações dos
Anjos, que tinham estabelecido uma base numa das luas de Marte!
Sentia uma reconfortante sensação
de proteção e aconchego e na minha mente uma voz me falava: - Sou Michael e tu,
como te chamas? Que vêm fazer a Marte? Depois de eu explicar tudo o anjo pediu
desculpas, mas explicou que eram os guardiões do planeta e que ninguém estava
autorizado a descer lá, pois era completamente inabitável! Perante a minha
interrogação, acerca do que tinha acontecido á minha nave e os seus ocupantes,
bem como á nave-mãe, Michael disse que tinham sido desviadas para a sua base em
Deimos e que iam ser todos interrogados e educados para compreenderem as
questões profundas sobre os seres que habitam a galáxia e as condições de
habitabilidade dos planetas! Estavam a salvo e isso era importante, mas o
melhor era aquele encontro inesperado com os Guardiões de Marte e o que iríamos
aprender com eles!
E assim consegui concretizar
mais um sonho!
Arlete Maria Piedade Louro
Portugal
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