Todas as manhãs, ainda o sol não
tinha despontado, iluminando as copas das árvores vestidas de cores outonais
Mary Anne chegava e sentava-se no banco de madeira á beira do extenso relvado
do Central Park em Nova Iorque.
No seu colo, o homem que a
acompanhava, colocava grandes braçados de flores coloridas de cores garridas e
diversas espécies. Depois ia embora, e a menina de tristes olhos azúis, ali
ficava sentada sozinha, toda a manhã.
Os habituais utilizadores do
parque iam chegando e comprando as flores á menina. Ela nada dizia, apenas
recebia as moedas que lhe davam em troca das flores. Uma moeda, uma flor!
Ao final da manhã, o homem
voltava. Abria a caixinha das moedas e fazia uma rápida contagem. Também
contava as flores excedentes, que atirava com indiferença para o cesto do lixo
mais próximo. Depois ia embora sem olhar para trás e a menina seguia-o a medo,
sempre tristonha. Ela sabia que só teria direito á refeição sempre igual, de
uma sopa aguada com um pedaço de pão, se conseguisse vender o número de flores
que o patrão tinha em mente. Nos dias em que não atingia o número ideal, não
almoçava e tinha que trabalhar toda a tarde nas estufas de flores com a
barriguita encolhida contra as costelas e os olhos azuis marejados de lágrimas
de dor e fome.
Um dia, um senhor com um ar
bondoso carregado com telas, paletas de cor e pincéis, sentou-se no banco ao
lado do dela e sorriu-lhe. Ela não estava habituado a sorrisos e baixou os
olhos envergonhada. Ele montou o seu tripé, colocou uma tela nova e começou a
desenhar. Depois misturou as cores, e ficou pintando o desenho. Curiosa Mary
Anne observava-o. Ele às vezes sorria-lhe e ela esquecida que não sabia sorrir,
correspondia. A manhã passou depressa, e quando o patrão regressou, a caixa das
moedas estava vazia e as flores estavam na mesma posição, abraçadas pelos bracitos
nervosos da menina. O homem perdeu a cabeça e começou a injuriar a pequena
vendedora, chamando-lhe inútil e dizendo que naquele dia ela tinha que ficar no
parque sem almoçar, até vender todas as flores. Depois voltou costas, mas o
artista, dirigiu-se-lhe perguntando quanto queria pelas flores, pois queria
levar todas. Feito o preço, o pintor entregou as moedas estipuladas e só então
o floricultor reparou no quadro onde estava retratada a menina com as suas
flores.
- Espero que não se importe de
ter pintado a sua filha sem sua autorização! – Disse o artista.
- Não é minha filha! Ela é uma
órfã inútil que acolhi por caridade e tento que me ajude no meu negócio, mas
mal consegue ganhar para a sopa que come!
O pintor impressionado com os
olhitos azuis marejados de lágrimas e o coração empedernido daquele homem
respondeu: - Pois então se me autoriza, ela ficará ao meu serviço a partir de
hoje, para modelo das minhas pinturas! Não tenho dúvidas que juntos
conseguiremos criar e vender belos quadros, que irão providenciar o nosso
sustento!
- Pode levar essa criança inútil
se lhe interessa! - Respondeu o floricultor sem hesitar e voltando as costas
foi embora atravessando o parque. O artista sorriu e estendeu a mão a Mary
Anne, que sem hesitar a aceitou e o seguiu confiante, os olhos da cor do céu,
brilhantes de felicidade!
Arlete Maria Piedade Louro
Querida amiga,
ResponderEliminarQue lindo o seu conto "Mary Anne". Adorei!!! E quantas vezes vemos meninas a pedir que depois entregam a esmola que recebem a um homem que conta o dinheiro e o leva todo. É muito triste que façam isto e não podemos fazer nada senão não voltar a dar a esmola à menina que está a ser explorada!?
Agradeço do coração os parabéns que teve a gentileza de deixar no meu blogue.
Que lindas palavras deixou no meu poema!!! Com muita amizade da Maria