Maria era uma adolescente que
vivia numa vila alentejana nas planícies ao sul de Portugal, Era tímida e o
pai, apenas a autorizava a sair de casa para ir á escola, acompanhada da criada
que também a ia esperar á saída das aulas. Quando regressava, fazia os deveres
escolares e aprendia com a mãe a bordar e costurar e todas as artes de uma dona
de casa, para estar preparada para o casamento, quando chegasse a sua hora.
As suas colegas saíam depois
das aulas, para passearem no jardim e aos domingos para irem ao cinema. Maria
ficava espreitando por trás da janela, para ver os rapazes que passavam na rua,
e quando algum parava, olhando para cima, tentando ver a menina que se escondia
atrás dos cortinados brancos bordados, ela timidamente entreabria as portadas
azuis e dizia: Bom Dia!
Um dia ela encontrou uma carta
por debaixo da porta, endereçada á Menina da Janela. Receosa e chocada abriu a
carta á noite no seu quarto, e leu o pedido que o rapaz que todos os dias
passava a cavalo na rua fazia, para ir falar com o pai dela, para lhe pedir autorização
para namorarem. Ela também gostava dele, por isso arranjou forças para falar
com o pai, mas a resposta foi negativa, porque o rapaz era pobre e apenas era
um trabalhador nos estábulos da quinta, próxima da vila. Quando ele surgiu na
rua, olhando ansioso para a janela entreaberta, ela só acenou um não com a mão
e fechou a janela, para ele não ver as suas lágrimas. No domingo seguinte, o
pai apareceu com um rapaz mais velho, em casa e mandou-a chamar á sala de
jantar. Disse-lhe: Maria este é o José. É filho do meu sócio, é um bom rapaz,
tem um lugar na empresa garantido, tem uma casa e um carro, e quer casar
contigo. Vamos marcar o casamento para daqui a dois meses, a tua mãe diz que
tem tudo preparado, prepara-te também!
Maria saiu cabisbaixa,
tentando conter as lágrimas. Não gostava daquele homem, não o conhecia de lado
nenhum, mas sabia que se o pai mandava, apenas lhe restava obedecer. Os dois
meses demoraram a passar, mas ela foi-se conformando com a presença dele e o
casamento realizou-se na data marcada. D. Maria da Paz Guerreiro, foi viver
para a casa do marido numa quinta no campo e deixou de ser vista na vila, a
janela agora sempre fechada, era a imagem da tristeza.
A vida seguiu seu curso, os
negócios faliram quando a crise económica teve início, seus filhos emigraram
para Inglaterra, e seu pai, agora velho, faleceu de desgosto, deixando-lhe a
casa da vila. Seu marido fugiu para o Brasil com a secretária, mas o avião caiu
e não houve sobreviventes.
Viúva e livre voltou a viver
na casa da vila, a janela aberta de par em par, deixava entrar o sol
alentejano, e D. Maria da Paz, agora uma senhora quarentona, ainda bonita e
viçosa, passava o tempo á janela, cumprimentando quem passava.
Um dia pela manhã cedo, ainda
antes de abrir a janela, ouviu que batiam á porta da rua. Surpreendida por ter
visitas àquela hora matinal, foi abrir. Um gentil cavaleiro, esperava segurando
pela rédea um belo cavalo lusitano. Prendendo a rédea do cavalo, na argola da
parede, cumprimentou-a com cortesia, retirando o seu chapéu: Bom dia posso
entrar?
Sem reação, ela apenas se
afastou, dando-lhe espaço, para entrar na sua casa e na sua vida, do lado de
dentro da janela.
Arlete Maria Piedade Louro
Portugal
Sem comentários:
Enviar um comentário