Como no fado de Amália Rodrigues, a Rainha do Fado,
Carmencita era uma cigana, mas do tempo presente. Era linda, mas já não andava
na caravana. Vivia numa casa de um bairro social com a família toda, tinha dois
irmãos mais velhos, e três irmãs mais novas. Ela era a mais velha das meninas,
com 19 anos acabados de fazer. Era morena de longos cabelos negros, e ao
contrário da sua mãe que vestia a tradicional saia comprida e justa das ciganas
e vendia na feira, com o seu marido cigano, Carmencita, vestia mini-saia e
calças justas. Queria ser uma jovem independente, por isso arranjou emprego num
call-center, onde fazia telefonemas todo o dia, encantando os clientes com a
sua voz cantante e fazendo uma boa soma em comissões ao fim do mês.
Até aqui os pais, embora contrariados, iam aceitando as
ideias de Carmencita, á conta das modernices. O pior foi quando ela arranjou um
namorado fora da raça, um português cliente do call-center que todos os dias
lhe telefonava, querendo fazer compras, apenas para ouvir aquela voz encantada,
longe de imaginar que pertencia a uma cigana. Francisco bem insistia e fazia
convites, para beberem um café, para almoços, para jantares, mas Carmencita
sempre respondia, que os pais não a deixavam frequentar cafés ou restaurantes.
Então e um passeio no jardim? - Insistia o apaixonado Francisco. Costuma
dizer-se que água mole em pedra dura, tanto dá até que fura e um dia Francisco
conseguiu marcar um encontro. Mas ela não podia arriscar-se a ser vista, por
algum membro da sua raça e aceitou ir até á casa dele.
Depois daquele primeiro dia, outros encontros se seguiram. Na
casa do namorado, todos a respeitavam, ele vivia com a sua mãe viúva, uma irmã
mais nova e a avó velhinha. Ficavam a beber chá com a avó, ou a ajudar a Sara,
a irmã mais nova de Francisco, a fazer os deveres da escola. Mas um dia, o
Paquito, que era um primo de Carmencita, a quem tinham prometido que casaria
com ela, viu-a entrar na casa do Francisco, acompanhada com aquele rapaz de
fora da raça, e foi logo falar com o Pepe, o tio, pai de Carmencita.
Mas a irmã mais nova, mandou uma mensagem para o telemóvel da
mana, avisando o que se passava e dizendo para não vir para casa, porque estava
desonrada e ia haver mortes.
Então Carmencita mesmo sem ter nunca feito amor com o namorado,
sabia que a única solução para o casamento ser autorizado, seria fugirem
juntos, apresentando o facto como consumado e avisando a família. Um vizinho de
Francisco, rico comerciante e homem respeitado na vila, ofereceu-se para
mediador e foi falar com Pepe. Ao fim de muitas conversas á volta da mesa, foi
aceite o casamento, mas a partir desse dia, Carmencita, deixou de ser
considerada de raça cigana, e integrou-se na vida da família e da vila,
mantendo o seu emprego no call-center e passando a ser uma mulher independente,
que cuidava da sua família, como todas as outras.
Arlete Piedade
Portugal
Amália Rodrigues, canta o Fado "CARMENCITA"
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