Estava uma manhã linda de primavera, com aquele leve manto de neblina que dava um ar suave ás árvores e ruas da minha cidade, enquanto me encaminhava a pé para o trabalho, como habitualmente.
No entanto havia algo estranho no ar...uma expectativa, um silêncio, como se tudo esperasse uma mudança inevitável e anunciada desde há muito.
De repente na minha caminhada, algo chamou-me a atenção, um troar longínquo e bem alto de motores de aviões em formação que se deslocavam velozmente.
Á chegada ao trabalho, os colegas sentiam a mesma atmosfera de expectativa e estavam inquietos, indo á varanda envidraçada do primeiro andar do prédio antigo onde estava situado o escritório, e procurando na rua estreita, alguém ou algo que fornecesse respostas.
Em frente havia uma pastelaria, onde habitualmente íamos beber o café da manhã e alguém disse que parece que tinha havido uma revolução, e que as tropas tinham ido para Lisboa.
Na excitação de tal notícia, já pouco trabalhámos durante a manhã, procurando ouvir a rádio para saber notícias ou descendo á rua para falarmos com as pessoas que passavam.
Até que chegou o chefe, e confirmou que era verdade, que estava uma revolução em marcha e que podíamos ir para casa até se saber o que ia acontecer.
Então alegres e entusiasmados, saímos como se fossemos de férias, cada um para as suas residências e ficámos colados aos rádios e aparelhos de TV, vendo os nossos valorosos soldados comandados pelo nosso querido capitão Salgueiro Maia, ir tomando rua após rua, quartéis e ministérios, até á rendição final do chefe do governo.
Das armas enfeitadas com cravos vermelhos, nenhum tiro foi disparado, graças á estratégia desse célebre capitão que saiu durante a madrugada á frente das colunas, da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, minha cidade, em direcção a Lisboa para restituir a liberdade a um povo amordaçado.
Do resto fala a história, apenas quis recordar como vi esse primeiro dia 25 de Abril, aos meus 17 anos de idade.
Arlete Piedade
Esse atos heróicos de nossos contemporâneos nos enchem de orgulho, mais ainda porque hoje em dia quase não vê feitos como esse.
ResponderEliminarEmocionante ler teu artigo. Parabéns!