sábado, janeiro 04, 2014

NO TEMPO DO INVERNO


AUTORA NO TEMPO DA SUA INFÂNCIA
Com esta semana de chuva e frio que marca o início efetivo do Inverno em tempo real, uma vez que pelo calendário já começou há algumas semanas, recordo-me de outros Invernos e recuo de novo, até ao tempo da minha infância.
Uma das primeiras recordações que tenho do Inverno, foi de um dia de queda intensa de granizo, tão forte e em tanta quantidade, que tapou todo o peitoril da janela, da sala de nossa casa na aldeia, de onde eu espreitava do lado de dentro, muito surpreendida e também desejosa de abrir a janela e brincar com aquelas bolinhas brancas e frias. Claro que a minha mãe não deixou, e imagino que me terá tentado explicar que podia constipar-me. Mas essa parte já não me lembro, só imagino, pela comparação com o que os pais costumam fazer com os filhos.
Recordo também quando ia para a escola, atravessando os campos pelas estradas rurais, com as outras crianças, dos campos cobertos de geada, todos brancos e do encanto que sentia com toda aquela brancura e da luz do sol nascente, cujos raios incidiam nos cristais, fazendo brilhar esplendorosamente toda a paisagem.
Mas era muito frio e as nossas mães, para nos aquecerem as mãos e os sapatos antes de sairmos de casa, na falta de luvas e outros agasalhos, colocavam pedras redondas entre as brasas da lareira, para aquecerem, as quais depois enrolavam em papeis de jornal, para levarmos nas mãos e nos aquecerem. O pior aconteceu, quando uma das pedras estava quente demais e pegou fogo ao papel, provocando apenas um susto, pois de imediato a criança a jogou fora.
Com os sapatos, eram brasas incandescentes que eram colocados lá dentro e abanados os sapatos, para aquecerem com o contato das mesmas, que eram jogadas de volta à lareira, quando os seus donos, tinham que os calçar, para partir.
Também recordo as brincadeiras nos regatos que se formavam, quando voltávamos da escola. Havia um rapaz mais habilidoso que fabricava pequenos moinhos de cana, e represava as águas, formando pequenas lagoas, de onde encaminhava as águas por um pequeno cano, fazendo assim mover os moinhos e colocando-se em evidência, perante as meninas encantadas, é claro.
Por falar em ribeiros, não havia pontes, e num local, tínhamos que atravessar o ribeiro, pulando de pedra em pedra, com as mochilas ás costas.
O pior foi uma vez em que o pé escorregou e tomei um banho forçado, com a mochila incluída. Mas tinha também a parte mágica, de ir espreitar os locais onde cresciam as violetas selvagens e os junquilhos brancos, cujos perfumes embriagantes me deleitavam. Cresciam nas margens dos regatos e ribeiros, em locais aconchegados, que fui aprendendo a descobrir e marcar de ano para ano, para ir descobrir quando floresciam durante o Inverno e início da Primavera.
A meio do Inverno, tínhamos dois períodos alegres no entanto. Era o Natal e a Passagem de Ano, quando havia a festa anual da aldeia, pela qual esperávamos um ano inteiro, pois era o único divertimento que conhecíamos nessa altura, e os únicos dias do ano, em que tínhamos comidas melhoradas e doces. Também recebíamos visitas de amigos e parentes de longe. A festa também nos animava, com a música, a quermesse, o arraial, os bailes e o balão de ar quente que era largado, para subir e se perder ao longe, na passagem de ano enquanto os foguetes de luzes luminosas estralejavam no ar e era lançado também fogo de artifício. Passada a festa, o inverno continuava com os seus dias frios, gelo, chuva, sacrifícios e brincadeiras, até que o mês de Janeiro, o mais longo do ano, chegava ao fim e no mês de Fevereiro, os primeiros sinais da Primavera iminente, iam-se anunciando, com o rebentar das folhas, as primeiras flores e o verde dos campos, com as sementeiras a nascer.
Mas quando alegres se ouviam os gorjeares das primeiras andorinhas, era a alegria geral: - Já chegaram as andorinhas! - Exclamávamos alegremente!
Era o primeiro sinal do fim de mais um longo inverno e da chegada da nova Primavera, com as suas flores coloridas e perfumadas, e os dias de sol e vento cheiroso!
São algumas recordações dos Invernos da minha infância, agora que mais um Inverno começa. Esperemos que as andorinhas voltem depressa!
Arlete Piedade Louro
Editado em " No Tempo de ... Crónicas de Outras Épocas "